29/07/2009

O FIM DE UM CAMPEÃO EXEMPLAR

43 ANOS DE IDADE - 24 ANOS NO ANDEBOL

11 TÍTULOS CAMPEÃO NACIONAL, 5 CLUBES, 150 INTERNACIONALIZAÇÕES


Tínhamos prometido fazer um artigo sobre Carlos Ferreira, não o fizemos mais cedo por manifesta falta de tempo, dado que estes artigos sobre fins de carreira necessitam sempre de um cuidado especial.

Carlos Ferreira quanto a nós significou sempre aquilo que consideramos um atleta exemplo. Extremamente correcto, defensor das suas causas e um lutador até ao fim.

Termina a carreira aos 43 anos, diga-se na altura ideal, apesar de que se não fosse a lesão, estamos convictos que ainda jogaria mais 1 ou 2 anos. Mas a idade começa a pesar e as lesões não perdoam.

Fermentões, Desportivo Francisco de Holanda, ABC, Sporting e F. C. Porto foram as suas camisolas, e as suas famílias, tendo obtido 11 títulos de campeão nacional e foi internacional sénior por Portugal em 150 vezes.

No seu ultimo jogo pelo Sporting temos a imagem de Carlos Ferreira encostado a um dos postes a chorar como uma criança,depois de vários anos de leão ao peito.

Muito poderia haver para dizer sobre este exemplar atleta que sempre serviu de exemplo para os que iniciavam a actividade no andebol, e para os atletas mais novos dos planteis onde estava inserido. Mas vamos deixar um episódio que retrata muito daquilo que é Carlos Ferreira.

Em tempos Fernando Correia, autor de um livro que comemora os 100 anos do Sporting e reputado jornalista escreveu entre outras coisas as seguintes afirmações:

"já não há tempo para amar a camisola",

"se não pode pagar acaba com as modalidades"

"os atletas é que não querem competir por amor ao clube, como antigamente".

Esse livro saiu já com Carlos Ferreira no ABC, e quando este leu estas afirmações, com a sua conhecida atitude, escreveu um artigo de resposta, que consideramos de alto nível, demonstrando aquilo que é, quanto a nós um dos mais transparentes, e frontais comentários à realidade portuguesa.

Passamos a transcrever a resposta.

"Como sportinguista, ex-atleta e ex-capitão do Sporting, quero expressar o meu lamento pelas palavras do jornalista, escritor e sub-director do jornal do Sporting. E pergunto: Acabar com as modalidades amadoras do Sporting porquê? Será que o orçamento das amadoras dá para pagar sequer a um jogador de futebol profissional? É que profissionalismo não é só um estatuto, mas sim uma maneira de estar e sentir o desporto que se pratica. Ou será que profissionalismo é insultar o treinador, não cumprir os regulamentos internos do clube e dizer que não se quer jogar ou dizer que não reconhecem o seu valor no clube porque se ganha pouco? Sem querer generalizar, e falo por experiência própria, pelos 20 anos de andebol sénior, onde fui campeão em todas as equipas, ter amor à camisola é jogar lesionado, com entorses, fracturas, gripes, febres, hérnias ou lesões que tais e, já agora, devo dizer que mialgias não existem no vocabulário das amadoras. Ter amor à camisola é viajar no próprio dia do jogo, fazer viagens de horas intermináveis, desde avião, comboio e autocarro numa só deslocação, comer no McDonald's de madrugada e sob temperaturas negativas ao ar livre, porque nada mais há e levar comida de casa. Ter amor à camisola é dormir em hotéis duvidosos, sem aquecimento, sem água quente, com lençóis comidos por baratas e sabe-se lá que mais e ter, por isso, de dormir vestido. Tudo isto em vez de termos voos charter, hotéis luxuosos e cozinheiro particular. Se isto não é amor à camisola, então não sei o que é?", disse, de uma assentada, o internacional A português, que continuou praticamente sem se deter: "Se calhar, e digo se calhar, é por pessoas como este senhor que o nosso belo país tem a mentalidade e cultura desportiva que tem, já que tudo é futebol em Portugal, onde se fazem todos os sacrifícios apenas para se levantarem belos e estrondosos campos de futebol. Mas este é um país onde as amadoras trazem títulos e medalhas que não vale a pena enumerar por serem muitas e do conhecimento geral, e no qual as federações têm de pagar às televisões para que os jogos dos que têm amor à camisola sejam transmitidos, seja na TV pública ou não e muitas vezes nem assim...".
"Nestes longos e bons 20 anos, eu e outros atletas, com família constituída, estivemos vários meses com salários em atraso e nem por isso viramos a cara ao clube e ao emblema que representávamos, sem greves, sem rescisões, mas sim com dedicação e respeito pela camisola que vestíamos e fomos campeões". Para o guardião do ABC, de 39 anos, "ter amor à camisola é treinar duas/três vezes por dias, ter oito treinos por semana e fazer nove ou dez jogos por mês. Não é só beijar o símbolo. É senti-lo, sofrer e viver por ele".

“Desde já me retrato por qualquer incorrecção da minha parte e queria pedir-lhe que reveja a sua posição, que respeite mais as modalidades amadoras e o verdadeiro amor à camisola. E sim ao ecletismo no Sporting e em todos os outros clubes! Ai se eu pudesse...".

Com isto não há muito mais a dizer sobre a pessoa, e sobre o grande jogador que foi Carlos Ferreira. Ficamos contentes com o facto de Carlos Ferreira assumir o cargo de técnico-adjunto dado que os conceitos que vai transmitir à equipa são demasiado importantes, e são conceitos que já se vão perdendo na actual sociedade.

Garra, humildade, e espírito de sacrifício é algo que não se compra…

Consideramos que seria interessante a FAP criar um jogo de final de época, do género jogo das estrelas para que estes atletas que terminam as suas ilustres carreiras possam ter o reconhecimento final público por um esforço realizado sobre uma vida dedicada à modalidade. Era uma boa oportunidade para o andebol uma vez mais se unir.

Ou mesmo na acção que vai decorrer no Europarque onde todo o andebol está reunido, no meio de tanta teoria, existisse uma sessão de entregas de "medalhas de mérito" a atletas que elevaram a qualidade do andebol nacional. E não faltam nomes para tal, Ricardo Andorinho, Filipe Cruz, Rui Almeida, Carlos Ferreira, Carlos Resende, Pedro Gama, Miguel Fernandes, Manuel Arezes, Paulo Faria, etc…

Para finalizar, por tudo o que Carlos Ferreira fez pelo andebol, apenas podemos dizer MUITÍSSIMO OBRIGADO....

4 comentários:

Anónimo disse...

outravez a falar disto!? epa falem da nova epoca desportiva e deixem isto

Anónimo disse...

um senhor do andebol!

Ainda hoje se n estivesse lesionado metia o gordo do figueira num bolso!

Mas realmente podiam começar a falar da nova época!

Anónimo disse...

Não foi o Carlos Ferreira quem escreveu aquela resposta. Foi o Carlos Ferreira quem disse aquilo, sim, e disse-o muito bem, com toda a frontalidade. Mas aquilo foi uma reeportagem de um jornal. Jornal O JOGO, sublinhe-se

Anónimo disse...

Tambem concordo começem a falar da nova epoca desportiva nos planteis de cada equipa ect...